Das artes, a literatura é a mais próxima da psicanálise. O trabalho do psicanalista se assemelha ao do escritor. Transforma em narrativa coerente os relatos confusos e amorfos, encharcados de angústia, que o analisando traz ao divã.
Talvez por isso mesmo, não são poucos os analistas que escrevem. Eles o fazem não só para fixar em palavras o tumulto contínuo do acontecer psíquico, mas também para exprimir a criatividade, sempre convocada no trato do inconsciente — o seu próprio e o de seus analisandos –, que inevitavelmente segue por rotas próprias e originais, não aquelas vigentes no mundo da consciência, da lógica racional.
Carolina Scoz e Cláudia Antonelli se inscrevem nessa longa e respeitável tradição dos analistas escritores. Essas evocativas «crônicas psicanalíticas», que versam temas variados — amor, morte, acaso, tempo, infância, memórias, encontros e desencontros, reflexões sobre leituras –, pressupõem a incidência do inconsciente, essa dimensão do psiquismo, descoberta por Freud, que mudou de uma vez por todas a maneira como o homem concebia a si mesmo.
Sérgio Telles